Myrian MOURA (Universidade Federal do Rio Grande do Norte) – ORCID
larissa.brilhante33@gmail.com
Rosilene RIBAS (Universidade Federal do Rio Grande do Norte) – ORCID
rosilene.ribas.054@ufrn.edu.br
Nedja Lima de LUCENA (Universidade Federal do Rio Grande do Norte) – ORCID
nedja.lucena@ufrn.br
Observar a língua em uso mostra que a expansão de sentidos linguísticos é um fenômeno natural. Neste trabalho, analisamos a trajetória de expansão semântica do verbo entregar no português, sob a ótica da Linguística Funcional Centrada no Uso, que entende a gramática como um sistema adaptativo e moldado pelo uso (Bybee, 2010; Cunha; Bispo; Silva, 2013). O objetivo é mapear os sentidos que o verbo entregar apresenta ao longo do tempo e examinar as diferentes construções de estrutura argumental em que esse verbo ocorre. A metodologia adotada caracteriza-se como uma abordagem quali-quantitativa, que analisa um corpus diacrônico de 277 orações, extraídas de dois bancos de dados que cobrem dos séculos XVIII ao XX: Corpus Histórico do Português Tycho Brahe – CHP, (Galves; Andrade; Farias, 2017) e o corpora Discurso & Gramática (Furtado da Cunha, 1998). Os resultados demonstram que, embora o uso esperado do verbo fosse predominantemente em construção ditransitiva, a análise diacrônica revelou uma dinâmica evolutiva significativa: observa-se o aumento da frequência do verbo em padrão transitivo e a emergência de seu recrutamento em construção de movimento causado. Essas variações na valência verbal são influenciadas por fatores contextuais e discursivos, evidenciando como a língua se adapta às necessidades comunicativas. O estudo conclui que a polissemia do verbo entregar reflete a natureza dinâmica da língua, em que forma e significado se constroem em diferentes contextos de uso. Essa polissemia também permite que o verbo seja recrutado em construções de estrutura argumental distintas.
Palavras-chave: expansão semântica; verbo de transferência; sentidos do verbo entregar; linguística funcional; gramática de construções.