Francisco José Gomes de SOUSA (Universidade Federal do Ceará) – ORCID
francisco.jose.letras@gmail.com
Vitória Stefanny de Freitas SILVA (Universidade Federal do Ceará) – ORCID
stefannyfreitas13@gmail.com
Em busca de indícios de emergência da forma composta de haver/ter no pretérito imperfeito do indicativo + particípio como codificadora da acepção de passado anterior a outro passado, esta pesquisa é norteada pelo objetivo de averiguar a situação em que se encontram os processos de mudança linguística de tempos compostos no português arcaico. Para essa empreitada, utilizou-se como aporte teórico a Linguística Funcional Centrada no Uso (Furtado da Cunha; Bispo; Silva, 2013), que imbrica pressupostos das teorias da Linguística Cognitiva (Lakoff; Johnson, 1980; Lakoff, 1987; Heine et al., 1991) e do Funcionalismo norte-americano (Givón, 1995, 2001; Hopper, 1991), de modo a construir uma interface que vislumbra o uso da língua vinculado a representações mentais ao mesmo tempo em que se compreende o processo de gramaticalização como extensão metafórica de uma estrutura linguística. Foram examinados os dados provenientes de 1.680 cantigas medievais galego-portuguesas por meio dos seguintes parâmetros de análise: seleção argumental do sujeito, seleção argumental do objeto, tipo de combinação perifrástica, marcas morfológicas do particípio e variação entre “ter” e “haver. Detectamos que esses verbos manifestaram valores semânticos para além do sentido prototípico de posse original, ao desenvolver gradualmente novos usos de base metafórica somados a mecanismos metonímicos de uma mesma forma, tendo em vista que “haver” e “ter” apresentam polissemia em suas conceptualizações ao passo em que há migração do seu sentido de posse original (posses de objetos nominais) em direção à abstratização desse valor, que os leva a expressarem posses dinâmicas, posses espaciais e posses temporais.
Palavras-chave: antepretérito; LFCU; tempos compostos; gramaticalização; extensão metafórica.