Alessandra Emanuelle MACIEIRA SILVA (Universidade Federal de Minas Gerais) – ORCID
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Este trabalho propõe uma análise das orações causais insubordinadas na fala espontânea do português brasileiro, com base no conceito de insubordinação de Evans (2007), que se refere a estruturas formalmente subordinadas, mas que funcionam como orações principais. Observa-se que, em muitos casos, conjunções como “porque”, tradicionalmente associadas à subordinação, introduzem construções que não estabelecem relação sintática de dependência com a oração anterior. Em vez disso, apresentam-se como enunciados independentes, por vezes com alguma relação semântica entre os eventos. A pesquisa tem como objetivo identificar por que os falantes optam por essas formas menos canônicas, quais funções elas desempenham e se há motivações semânticas por trás dessas escolhas. Os dados foram extraídos do C-ORAL BRASIL I, cujas transcrições são alinhadas a arquivos de áudio e anotadas prosodicamente. A análise foi conduzida sob a perspectiva da Gramática de Construções (Croft, 2001), dentro da abordagem da Linguística Cognitiva e Funcional, que valoriza o uso real da língua em contextos comunicativos. As construções foram identificadas e analisadas em termos pragmáticos e discursivos. Os resultados preliminares indicam que as causais insubordinadas não expressam a relação tradicional de causa-efeito e não são determinadas pela marcação sintática, mas por sua função e conteúdo semântico. Em muitos casos, funcionam como justificações enunciativas, voltadas para a organização do discurso do falante, e não para uma relação de subordinação entre eventos.
Palavras-chave: Insubordinação; construções causais; Gramática de Construções; fala espontânea.