Gabriela Silva MONTEIRO (UFRPE) – ORCID
feane.lab@gmail.com
Renata Barbosa VICENTE (USP) – ORCID
renatab.vicente@gmail.com
Em 2024, foi produzido o curta-metragem Uxil’nexa d’mandedwa, uma coprodução do Coletivo Fulni-ô de Cinema, LabPresença e Experimento Produções. Este filme propôs o uso de tecnologias digitais, sensores 3D e inteligência artificial como instrumentos para transpor para o campo audiovisual a experiência sensorial do Toré de Buzo, ritual indígena de grande significado cultural e espiritual. O filme também buscou preservar e representar a corporeidade dos gestos, a oralidade da língua Yaathê — idioma originário dos Fulni-ô — e as tecnologias tradicionais presentes em seu território ancestral (Schröder, 2011). A transposição audiovisual de rituais culturais é de suma importância, pois possibilita tanto a preservação dessas práticas quanto sua difusão em contextos contemporâneos. O uso de inteligência artificial e tecnologias imersivas pode mediar o acesso a heranças imateriais, ampliando sua recepção e engajamento sem comprometer sua autenticidade. Estudos sobre museus e patrimônio cultural evidenciam que ferramentas como realidade virtual contribuem para uma interpretação mais profunda dos contextos culturais, envolvendo o visitante de forma sensorial e emocional (Cunha et al., 2025). Diante disso, é nosso objetivo discutir acerca da salvaguarda da cultura tradicional, a partir de ferramentas de tecnologia digital, sobretudo a inteligência artificial, como caminho de auto agenciamento da memória etnográfica e os impactos nesse processo de compreensão da realidade e conexão com esta prática secular do povo Fulni-ô. Este trabalho se justifica em virtude de a autorrepresentação audiovisual de comunidades indígenas fortalecer a agência cultural, permitindo-lhes expressar-se diretamente, sem as mediações historicamente impostas — uma prática que se alinha aos princípios de valorização da diversidade cultural (Delgado e Jesus, 2018).
Palavras-chave: cinema indígena; realidade virtual; memória etnográfica, povo Fulni-ô, toré de buzo.