Mércia Silva ABREU (Universidade Federal da Bahia) – ORCID
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Este trabalho analisa a conceptualização da vacina de mRNA contra a covid-19 no discurso antivacina, na perspectiva cognitivo-discursiva, tomando como corpus uma fake news publicada em julho de 2020, no auge das especulações sobre a tecnologia vacinal. O estudo, de natureza qualitativa, fundamenta-se na análise de metáforas, metonímias, frames e esquemas imagéticos (Esquemas-I), e ampara-se em Lakoff e Johnson (2002 [1980]), Lakoff (1987), Kövecses (2017), Almeida (2023), entre outros autores. O texto sustenta a tese de que a vacina alteraria geneticamente o DNA humano, convertendo o indivíduo vacinado em propriedade patenteável por empresas de biotecnologia. Essa ideia central organiza-se em um nicho cognitivo-discursivo que ativa metáforas conceptuais como TECNOLOGIA É AGENTE e DNA É SOFTWARE, particularizadas na metáfora situada vacina é programador. Ademais, o texto recorre a metonímias situadas como DNA por ser humano e coronavírus por proteína spike, ancoradas, respectivamente, nas metonímias conceptuais PARTE PELO TODO e TODO PELA PARTE. Essas projeções simplificam processos biológicos complexos com base em Esquemas-I como CONTÊINER, FORÇA e ORIGEM-PERCURSO-META. Concluímos que a força persuasiva desse nicho decorre da articulação entre cognição e discurso, em ambientes digitais, no contexto da pós-verdade.
Palavras-chave: cognição; discurso antivacina; pós-verdade; vacina de mRNA.