Rayane Pontes BARBALHO (PPgEL/UFRN – Capes) – ORCID
Rayane.pontes.123@ufrn.edu.br
Nedja Lima de LUCENA (Universidade Federal do Rio Grande do Norte) – ORCID
nedja.lucena@ufrn.br
Este trabalho expõe os resultados parciais da análise de construtos com o verbo entregar acompanhado de um intensificador e com elisão do objeto direto sem possibilidade recuperação anafórica, casos que extrapolam a descrição tradicional do verbo como transitivo ou ditransitivo, a exemplo de: “o iluminador eu queria usar esse dourado aqui gente… ele é bem de rico mesmo… […] vai entregar bastante na minha maquiagem” (Youtube, 2025). Nesses casos, o significado de transferência perfilado pelo verbo é desbotado e vincula um sentido de qualidade ou capacidade performativa do referente na posição de sujeito. A base teórico-metodológica do estudo é a Linguística Funcional Centrada no Uso (LFCU). O estudo se caracteriza como sincrônico de natureza quali-quantitativa (Lacerda, 2016), composto por um corpus de 200 amostras orais advindas do Youtube. No exame dos dados, observamos que esse uso com o verbo entregar, no qual há opacidade do sentido mais prototípico de transferência e uma estrutura sintática intransitiva, acontece, em grande parte, com elementos inanimados (menos volitivos, agentivos e controlados) ocupando papeis semânticos tipicamente humanos (Chafe, 1979; Cançado, 2008). Esse resultado parece apontar para o cline de mudança: Pessoa> Objeto> Espaço> Tempo> Qualidade, segundo Heine (2002), que assinala a inanimação e a abstração dos itens em posição de sujeito, via metáfora e metonímia, como uma das classes mais comuns de mudança semântica e estrutural. Argumentamos, assim, que a disposição de itens não típicos na posição de sujeito nas orações examinadas impacta na variação do verbo e podem contribuir para uma possível mudança em curso.
Palavras-chave: variação linguística; papeis semânticos; verbo entregar; LFCU.