Paulo BARROSO (ICNOVA – Instituto de Comunicação da Universidade Nova de Lisboa) – ORCID
pbarroso1062@gmail.com
Este trabalho explora os contributos de Wittgenstein para o estudo da linguagem a partir da sua viragem filosófica nas Investigações Filosóficas, em que propõe uma concepção pragmática e socialmente situada do significado. O objetivo é evidenciar como a noção de jogos de linguagem e formas de vida oferece uma alternativa robusta às teorias referencialistas e mentalistas, antecipando debates centrais da linguística funcional e cognitiva. A base teórica fundamenta-se na crítica de Wittgenstein ao modelo agostiniano da linguagem como nomeação, substituindo-o por uma abordagem em que o sentido emerge do uso em contextos culturais específicos. Metodologicamente, o estudo adota uma análise conceitual da obra tardia de Wittgenstein, dialogando com literatura secundária e teorias linguísticas contemporâneas. Os resultados destacam três contributos principais: 1) a centralidade do uso como critério de significado; 2) a crítica à linguagem privada como fundamento do sentido; e 3) a ênfase na gramática das práticas discursivas como expressão da cognição socialmente distribuída. Conclui-se que Wittgenstein oferece uma perspetiva dinâmica e relacional da linguagem, em que o sentido, a cultura e a cognição estão indissociavelmente ligados. A relevância da perspetiva de Wittgenstein reside na superação de dicotomias entre mente e linguagem, na valorização do uso quotidiano e na antecipação de abordagens que veem a linguagem como prática cultural situada e mediadora da experiência humana. Wittgenstein oferece, assim, fundamentos teóricos ainda atuais para os estudos linguísticos de base funcional e cognitiva.
Palavras-chave: cognição; gramática; jogos de linguagem; significado; Wittgenstein.